sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Fratura Exposta


Ela lhe pediu para que fosse feita uma promessa. Ele preferiu um juramento. Jurou que a deixaria ser feliz ao lado dele. Naquele momento, ele até se mostrou indignado com o pedido, como se fosse obvio que seriam felizes juntos, como se não houvesse no mundo algo que tirasse deles a certeza da felicidade. A certeza de que dois se tornariam um.
Viveram dias de saudade intensa, lindas surpresas, expectativas, se conheceram, se apaixonaram (pelo menos era o que parecia).
Da noite para o dia alguma coisa mudou... Ela começou a questionar o poder das palavras. Será que só para ela as palavras tinham tanta importância, tanto poder? Será que só ela achava que se um singelo e significativo 'juro e prometo' foi dito, ele deve ser cumprido? Tudo bem, nada foi dito, não ouvi-se voz alguma, mas precisava?
A palavra escrita difere da falada? Uma tem mais credibilidade do que a outra?
Não, não era assim, ele gostava de escrever tanto quando ela, não daria um descrédito desse as palavras. Não acreditava nisso.
Parecia-lhe inevitável reler emails e conversas, não conseguia se desprender de todas aquelas letras. Uma das verdades é que ela adorava cutucar a fratura exposta, não queria se desprender, não queria apagar, o mártir a fazia bem de alguma forma, a fazia sentir-se forte, a fazia sentir-se viva, tinha quase orgulho de mostrar aos outros a sua ferida e como ela conseguia suportar bem aquilo tudo.
Ela sabia que enquanto a angustia estivesse presente ele também estaria. Era como se ela precisasse daquilo como o ar que se respira, precisava o manter vivo dentro dela. Bastava saber que ele existia que não era só um sonho, ele existir em algum lugar já era o suficiente. Ela precisava cutucar a ferida, tinha que manter a fratura exposta.

(Inspirada nos textos do site http://donttouchmymoleskine.com)

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