sábado, 18 de setembro de 2010

A menina de xadrez, all star e guarda-chuva na mão. Caminhava pela avenida. O vento balançava os seus cabelos. Pontas claras. A garoa molhava o seu rosto, borrando a maquiagem que acabara de fazer. Setembro. Um dia que sempre seria importante. Faltavam três dias para a chegada da primavera. O dia que seria o mais frio do ano. Solitude. Tinha que aproveitar como se ele estivesse ali. Impossível. Desistiu.
Algo inusitado resolveu ir ao cinema sozinha, nunca havia feito isso antes. Precisava se acostumar estava ali sozinha e assim ia permanecer. Fato. Precisava se libertar. Precisava se acostumar a não ter sempre alguém ao sei lado. Nos próximos segundos seria assim. Tinha alguém dentro de si, mas não ao seu lado.
Descoberta. Apareceu mais dentro de si do que a própria imaginava. Existia uma força ao seu redor, algo que a movimentava, uma força vinda de cima. Descobriu que não estava sozinha, nunca estaria.
Tinha tantas perguntas. Era curiosa. As respostas viriam no momento certo, sempre vem. Fé. É necessário aceitar o seu drama ou a sua comedia. Assim seria. Não estava triste. Não estava sozinha. A menina estava com ela mesma. Estava entendendo como era por dentro para depois se mostrar. A vida é de quem se mostra. De quem se arrisca. De quem caminha. De quem vai de encontro ao destino. De quem não tem medo de se jogar, de acreditar, sonhar. De quem não tem medo do tombo, não tem medo de altura. A vida é de quem tem coragem e sabedoria para aceitar.
A menina de xadrez, all star e guarda chuva na mão, continuava caminhando e nada a faria parar.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Devaneios noturnos

Se não fosse assim não teria graça, não tiraria o fôlego, não existiriam noites mal dormidas, eu amo o exagero que me prende a você. Amo o modo como eu vejo intensidade onde talvez isso nem exista.
É isso o que me faz bem... Essa distancia absurda, que faz com que eu precise de você como o ar que eu respiro.
Adoro o drama que faço para descrever a falta que você me faz. O modo como as pessoas não acreditam que possa dar certo, o olhar que todos me dirigem, deixando claro que me vêem como uma louca,seguram uma risada quase de pena.
Não importa... Adoro essa ausência, essas complicações, que fazem com que eu me sinta dentro de uma comedia romântica.
O roteiro daquele filme “amor a distancia”, eu poderia ter escrito sem grandes dificuldades.
Só falta o toque para eu começar a escrever a nossa historia. Aquela que vai ser a mais linda historia que você já leu. Teremos uma vida bem “comercial de margarina” e acabaremos velinhos, em nossa casa com piscina, netos e cachorros, muitos cachorros ao redor, labradores e golden retriever. É, isso mesmo, teremos uma historia linda, tão linda, com final feliz e muito mais divertida do que isso, é claro.
Se não fosse assim, exatamente do jeito que é, seria só mais um, seria só mais uma historia que não teve tempo de ser escrita. Seria fácil demais, esperado demais e não habitaria em meu coração esse misto estranho de sentimentos.
Se não fosse tão impossível, tão surreal, não seria tão bonito, não seria tão verdadeiro.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Fratura Exposta


Ela lhe pediu para que fosse feita uma promessa. Ele preferiu um juramento. Jurou que a deixaria ser feliz ao lado dele. Naquele momento, ele até se mostrou indignado com o pedido, como se fosse obvio que seriam felizes juntos, como se não houvesse no mundo algo que tirasse deles a certeza da felicidade. A certeza de que dois se tornariam um.
Viveram dias de saudade intensa, lindas surpresas, expectativas, se conheceram, se apaixonaram (pelo menos era o que parecia).
Da noite para o dia alguma coisa mudou... Ela começou a questionar o poder das palavras. Será que só para ela as palavras tinham tanta importância, tanto poder? Será que só ela achava que se um singelo e significativo 'juro e prometo' foi dito, ele deve ser cumprido? Tudo bem, nada foi dito, não ouvi-se voz alguma, mas precisava?
A palavra escrita difere da falada? Uma tem mais credibilidade do que a outra?
Não, não era assim, ele gostava de escrever tanto quando ela, não daria um descrédito desse as palavras. Não acreditava nisso.
Parecia-lhe inevitável reler emails e conversas, não conseguia se desprender de todas aquelas letras. Uma das verdades é que ela adorava cutucar a fratura exposta, não queria se desprender, não queria apagar, o mártir a fazia bem de alguma forma, a fazia sentir-se forte, a fazia sentir-se viva, tinha quase orgulho de mostrar aos outros a sua ferida e como ela conseguia suportar bem aquilo tudo.
Ela sabia que enquanto a angustia estivesse presente ele também estaria. Era como se ela precisasse daquilo como o ar que se respira, precisava o manter vivo dentro dela. Bastava saber que ele existia que não era só um sonho, ele existir em algum lugar já era o suficiente. Ela precisava cutucar a ferida, tinha que manter a fratura exposta.

(Inspirada nos textos do site http://donttouchmymoleskine.com)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Incerteza

Não sabia o que fazer com aquele aperto no peito, já tinha até tirado o sutiã para ver se era isso que a incomodava, mais não, continuava sentindo falta de ar.
Nem chegava a doer, mais irritava, era isso, irritava sentir algo que não sabia da onde vinha, nem quando ia passar.
Fazia nascer uma angustia dentro de si que nem mesmo a fé na vida ou a felicidade escondida no fundo de seus olhos eram capazes de fazê-la esquecer aquele aperto.
Tudo bem tinha que admitir, no fundo, sabia que isso era culpa da sua mais nova amiga, a incerteza, essa, coitada, era tão sozinha, um dia a encontrou cabisbaixa, andando pela rua em uma tarde de inverno, então, resolveu que iria lhe fazer companhia, quis ser solidaria, elas agora andavam sempre juntas, a aonde uma ia, a outra ia atrás.
No inicio sentia-se feliz, era bom ter alguém para compartilhar os dias tão tumultuados de agosto, só que em pouco tempo essa amizade lhe trouxe esse aperto constante no peito.
Agora era tarde, não podia jogar fora uma amizade mesmo que não fosse uma das melhores do mundo, ela estava ali, lhe fazendo companhia... E o aperto? Ahhh Irritava, mas era possível suportar.

Cores


Vejo cores a onde existe ausência.
Sentada em meu quarto, vejo o dia cinza através da janela, as gotas molham o vidro, mas algo irradia aqui dentro.
Ainda existe vida. Ainda existe amor. Ainda existe fé.
É ótimo acreditar, ter certeza que dará certo, como faz bem a esperança!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Secador

Melissa secava o cabelo, seu reflexo no espelho mostrava um rosto sem expressão alguma.
Já estava acostumada com aquele calor queimando os seus neurônios, o barulho que a impedia de ouvir qualquer ruído que fosse e geralmente a incomodava muito, naquele dia lhe parecia muito agradável, afinal, ela não queria ouvir.
Era uma manha de setembro, ela tentava pensar na primavera. Quando as flores começariam a aparecer? Estava quente lá fora, parecia que teria um dia agradável.
Mas estava incomodada, aquele sorriso não saia de sua mente, não podia fechar os olhos, piscar era complicado, mesmo em uma fração de segundos o sorriso aparecia para atormentá-la.
Ela que sempre gostou tanto de dentes, amava sorrisos, nunca imaginou que pudesse existir um assim, arriscava-se a pensar que não existia nada mais encantador no mundo do que aquele sorriso.
Estava cansada, existia uma distancia interminável entre eles, ela e o sorriso. E por que parecia tão perto? Estava dentro de si.
Chega, não queria mais pensar. Só secar o cabelo já era o suficiente para aquele momento.